Acordo com o sabor da noite nos lábios e vejo-me como um violino no telhado, ainda no reflexo da manhã em desalinho e alimento o burburinho que se solta de um realejo que desce a rua alheado do que o rodeia,
desenho então um rectângulo em branco no espelho, com o dedo desenho no vidro o contorno do meu corpo e com os lábios em surdina nomeio-teo reflexo brilhante que me devolve em desejo surdo.. mudo. Preciso de uma fotografia, preciso das palavras feitas de cores e linhas. Faço então a viagem necessária até à tua janela, com o rio ao fundo onde desnudo poso vaidoso para ti.
Da tua janela, de onde me despes lentamente e de onde beijas de olhos abertos o desenho dos meu contornos, de onde beijas de olhos claros o gemido
das minha cores.
Na tua janela recriamos o amor dos corpos reconhecidos, reinventamos os sons do comboio aqui tão perto, saboreamos os dias perdidos…
E enchemo-nos de azul….Com o rio ao fundo. Lá ao fundo….da tua janela