Percorri com um olhar de cetim aquele corpo nu de deusa como eu te via naquele instante no tempo em que o paraíso explodia dentro de si.
Encantado e ajoelhado como em reverência, e ela na cama, deitada, em toda a sua magnificência de criatura perfeita, olhar endiabrado em corpo angelical, sentindo por antecipação o toque firme mas suave de uma das minhas mãos que eu aproximava devagar daquela linha de separação entre a terra e o céu, e senti aquela pele macia que estremeceu ao contacto com o seu calor.
Queria fazer amor sublime naquela cama, despertar nela a mesma chama que sentia arder em todo o homem que sou e que queria ser naquele instante do seu tempo feliz. Adorada, tocava seu corpo como porcelana rara, valiosa, encantadora, esta mulher feita deusa, feiticeira, que se entregava, disponível, ansiosa pelas sensações que eu lhe oferecia agora, lábios perdidos na imensidão do universo paralelo que percorriamos os dois, corpos convertidos em paraísos perdidos, uma ilha deserta recriada naquela cama onde ela, espalhada, me sentia sôfrego como um náufrago em busca da salvação, possuído, também pela emoção que arfava no peito que lhe roçava nas costas no seu movimento de vaivém, pelo espaço, na ausência da gravidade, ainda que terrenos no som que produziamos, as palavras insanas que proferiamos como válvulas de escape da pressão crescente que nos agitava em simultâneo quando no horizonte das nossas mentes o sol finalmente nasceu, em órbita descendente para o reencontro naquela cama, onde ela, deitada me beijou com a força desesperada da amante convencida de que o mundo iria certamente acabar amanhã.
