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Tudo que nao me mata me fortalece.
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Medo Radical

"O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno."

William Shakespeare

 

         Os Sociobiólogos que, nos anos 1970, aplicavam teorias evolutivas ao comportamento social, atribuem o fascínio do risco a nossa herança biológica desde os tempos pré-históricos. Segundo essa teoria, havia originalmente dois tipos de seres humanos: os que ficavam em casa, na caverna, guardando os filhotes, e os que se aventuravam no mundo selvagem em busca de alimento e de novos territórios. Os mais bem-sucedidos desses “aventureiros” foram os que desenvolveram as melhores habilidades de sobrevivência e, dessa maneira, puderam superar os maiores riscos. Estes viveram tempo suficiente para ter filhos, transmitindo com êxito seus genes ate que correr riscos passou a ser parte da natureza humana. Na sociedade moderna, as pessoas têm níveis variados de necessidade de exercitar seu cérebro primitivo envolvendo-se em atividades que as expõem ao medo.

 

“meu corpo está calmo, mas minha cabeça dispara. Por mais que eu tente controlar o medo, ele dispara faíscas pelo meu corpo, sacudindo os joelhos e os tornozelos. Estou lutando. É um salto simples, eu sei que vou fazer: empurrar, estender, encolher os joelhos para cima, atirar os joelhos de volta para trás, retomar a linha e absorver o impacto. Empurro para fora da minha cabeça a imagem de uma falha na queda e então salto!”

 

“Meu coração está disparado, pois sei que um erro significa me arrebentar ou até mesmo morrer. Finalmente, o ímpeto supera a restrição, e eu disparo pico a baixo, empurrado e orientado pelo medo.”


 

         Pesquisas subsequentes demonstraram a bioquímica que desencadeia essa euforia, a cascata de substancias químicas naturais no cérebro, entre elas a dopamina, as endorfinas e a serotonina. Estudos mostraram que as diferenças individuais na relação das pessoas com o risco estavam associadas a diferenças genéticas no neurotransmissor a dopamina e seus receptores. Há muito tempo a dopamina é ligada aos centros neurológicos do prazer, a liberação dessas substancia causa sentimento de satisfação e bem-estar, e reforça aquelas atividades que induzem esses sentimentos, como comer e fazer sexo, a dopamina também é liberada como reação a estímulos negativos, estressantes e ate mesmo dolorosos, ou seja, o tipo de estimulo a que os esportistas e atletas radicais se expõem regulamente. Alguns cientistas dizem que o ambiente e as circunstancias de vida da pessoa têm tanto impacto sobre seu comportamento quando a genética, ou ainda mais. O montanhismo implica muitos períodos de monotonia, e para Dalya Rosner, uma cientista britânica, “a magnificência das montanhas... a aventura de explorar a grandiosidade da natureza, a excitação de experimentar os elementos que constituem nosso mundo” oferecem recompensas que são tão valorizadas e buscadas quanto às mudanças químicas do cérebro.

 

          Segundo a tradição Celta, a terra tem “pontos ralos” onde o espirito e a matéria se encontram, onde os humanos podem contatar o divino e onde a presença do sagrado é sentida com mais força. Esses lugares de difícil acesso, expostos aos elementos em toda a sua força. Lugares que ate os céticos afirmam sentir uma energia que não conseguem explicar.

 

“Quando você se senta na encosta de um morro, ou se deita de costas sob as arvores, em uma floresta, ou se esparram com as pernas encharcadas na margem pedregosa de um riacho na montanha, a grande porta, que não parece porta, se abre”.

 

          Para compreender como funciona nosso sistema do medo, segundo dr. Joseph LeDoux, é importante entender os sistemas neurológicos que evoluíram como “ soluções comportamentais aos problemas da sobrevivência”. O ponto central desses sistemas é a amígdala, uma estrutura em formato de amêndoa, situada no sistema límbico, uma antiga parte do cérebro. Aprender com os estímulos que nos alertam para perigos e reagir a eles é pelas regiões do cérebro envolvidas com pensar; assim, as informações são enviadas diretamente para a amígdalas. LeDoux estuda a reação da amigdala a situações de perigo. No seres humanos, quando os sistemas de medo começam a reagir, o cérebro racional tenta avaliar o que está acontecendo e o que fazer a respeito. Mas os trajetos que conectam o córtex à amigdala são muito mais tênues do que aqueles que ligam a amigdala ao córtex. Isso poderia explicar por que, quando uma emoção é desencadeada, ela é difícil de ser controlada, e por que antigos medos continuam conosco, como se tivessem sido impressos nos trajetos neuronais.

 

“Nós, humanos, temos vozes que ignoramos. Durante anos, ignorei totalmente o medo. Ele não ia me ajudar a conquistar o posto de a melhor esquiadora do mundo. Sem medo, sem medo – era como ter uma criança berrando no porão, desesperada para escapulir. Em algum momento, isso começa a dilacera-la por dentro. Somente quando você acolhe o medo é que pode relaxar. É como uma criança que precisa ser ouvida. Assim que é ouvida, ela se acalma.”

 

“Se Deus esta em toda parte, está nas montanhas. O lugar que deixa você borrando de medo: para mim, é aí que Deus está. É por isso que a gente vai mandar ver, Willi Unsoeld defendia que as pessoas se entregassem à natureza ‘para experimentar o sagrado... para recuperar o contato com o carne das coisas, com o que realmente está aí, a fim de nos permitir regressar ao mundo das pessoas e atuar com mais eficiência. Busque primeiro o reino da natureza para que o reino das pessoas possa ser realizado. ’”. No mundo moderno, todavia, terminamos nos distanciando de nós mesmos, de nossas emoções e, principalmente, da natureza. A soma desses distanciamentos, segundo Unsoeld, resulta na perda do sentido da vida.

 

           De onde vem à noção de “Deus” para as pessoas? David Wulff, professor de Psicologia no Wheaton College, em Massachusetts, disse que, porque as experiências espirituais são tão consistentes através das culturas, do tempo e das crenças, que existem a possibilidade de “um centro comum, provavelmente um reflexo de estruturas e processos do cérebro humano”. A religião e a ciência em geral se digladiam, porém, mais recentemente, surgiu uma produção de pesquisas em busca desse centro comum, mapeando as mudanças neuronais durante experiências espirituais, um campo novo chamado de neuroteologia.

 

           Simon Schama escreve: “As montanhas finalmente admitidas no universo da natureza abençoada... a contemplação instruída da natureza tornou-se não apenas compatível com o assombro parente o Criados, mas uma maneira de reafirmar sua onisciência... para oferecer um vislumbre de sua engenhosidade”.

 

 

A sublime sensação
De alguma coisa muito mais profundamente infundida
Cuja morada é a luz dos pores do sol,
É o oceano redondo e o ar vivo,
E o céu azul, e na mente do homem:
Um movimento e um espirito que impele
Todas as coisas pensantes, todos os objetos do pensamento,
E circula através de todas as coisas. 

 


             Os românticos e os transcendentalistas que os seguiram acreditavam que, na contemplação da natureza, a mente pode atingir momentos intensificados de espiritualidade e iluminação. Que Deus pode ser sentido e que, por meio da natureza, podemos comungar com Ele. Essas ideias influíram nos aventureiso daquela época, como o escalador alemão Leonard Meiser, que, ao alcançar um passo alpino em 1782, foi arrebatado pela sensação de uma nova concepção do espaço.

 

“Inspirado, ergui meu rosto para o sol; meus olhos beberam o espaço infinito; fui sacudido por um divino tremor, e, tomando da mais profunda reverencia, cai de joelhos!”

 


 

 

              Sob a beleza da natureza, está o terror sempre presente. William Finnegan entende isso. Ele fala que a experiência de surfar ondas grandes parece um sonho, mas que nesse sonho é essencial estar muito acordado. O surfe em ondas realmente grandes é um campo de força que lhe deixa como um anão, e você só sobrevive ali se fizer uma leitura cuidados e caprichada. Mas o êxtase de realmente surfar ondas gigantescas exige que você fique rente ao terror de ser tragado por elas: o filamento que supera essas duas condições torna-se mais fino do que um nanopelo.” 

 

 

Sob a beleza, o terror.
Sob o terror, a beleza!

 

 

Do livro: Descobridores do Infinito - Autor: Maria Coffey - Pag. 31 - 54