CarlWeiss

 
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Sexo online

Eva era argentina.
Mas não uma dessas mulheres pálidas, esguias e sofisticadas, quase europeias, que flanam pelas ruas nas tardecitas de Buenos Aires.
Nascera e sempre vivera em Puerto Iguazú, província de Misiones, na chamada Trúplice Fronteira, a poucos quilômetros da cidade brasileira de Foz do Iguaçu.
Tinha 38 anos.
Era uma morena atraente, de cabelos negros, seios e bunda grandes; sabia-se bela, mas não de uma beleza que entusiasmasse seus compatriotas – los boludos, chamava-os com desdém.
Era uma beleza mais brejeira, brasileira,
Era isso, acreditava (e, se não fosse verdade, se a sua aparência fosse herdada de índias do Paraguai, também vizinho na Tríplice Fronteira, não fazia a menor importância).
A morena jamais perdoara aos pais duas coisas.
Seu nome, homenagem “àquela perua da Eva Perón”; e a pressa de sua mãe em parir do lado errado da fronteira.
“Custava ela ter segurado um pouquinho e chegado a Foz do Iguaçu? Eu seria brasileira, carajo!” (Carajo era um dos poucos palavrões boludos que usava, achava-o mais expressivo que o caralho brasileiro.)
Mas só dizia isso a si mesma, em raras ocasiões, bem baixinho, para não incorrer em crime de lesa-brasilidade; pois seu maior desejo, seu projeto de vida, era ser brasileira, mudar com arma e bagagens (ou sem elas, tanto fazia), para os pagos tupiniquins. Foi por isso que, após o término de um casamento horrível com um boludo filho da puta, partiu para a ofensiva.

Selecionou nas redes sociais vários senhores brasileiros – idade mínima 50 anos, máxima o céu era o limite – e pediu-lhes amizade.

Em sua página, aparecia toda vestida, mas com um decote generoso, a exibir-lhe os seios fartos; foi como oferecer sangue a vampiros.
Todos aceitaram, e começaram a pedir fotos mais reveladoras, de preferência nudes.
- Meu amor, manda uma foto nuínha, quero ver seus peitos e sua buceta – dizia a tigrada.
Ela atendia, com um sorriso sacana.
Em seguida, pediam mais:
- Amor, manda um vídeo se tocando, se masturbando; no Brasil, isso se chama siririca.
Ela sabia, tinha um português quase perfeito e era PhD em putaria à brasileira.
- Mando sim, mas antes quero saber uma coisa: você quer algo sério comigo?
E aí a moçada (a rigor, a madurada) se dividia.
Alguns confessavam que eram casados; outros diziam a idade (ela já sabia, pelas redes sociais), que estavam velhos demais para um relacionamento sério, só queriam mesmo brincar.
Ela dava um suspiro e os esquecia.
E o transetê continuava.
Havia, para começar, os predadores da pesada:
- Claaaro que quero algo sério!
Vou trazer você pro Brasil.
Mas antes, toca umazinha pra eu ver...
Ela fingia acreditar e obedecia.
Tinha pior:
- Quero casar com você!
Mas agora, faz o vídeo se tocando e chama uma amiga pra uma briga de aranha, gosto de ver...
O primeiro lugar coube a um filho da puta que falou que casava, claro que sim, mas queria que ela arranjasse um macho para fudê-la, gostava de assistir a essas coisas...
Esse, ela bloqueou no ato.
E então Olívio entrou na vida de Eva.
Era gaúcho, gostava de mate (chimarrão), de tango...
Encantou-se pela índia, era assim que a chamava.
Nem precisou perguntar se ele queria algo sério, o gauchão tomou a iniciativa.
- Índia, estou me apaixonando por ti.
Estou pensando em trazê-la pro Brasil, pra morar comigo.
Tu aceita?
- Mas não queres me ver nua antes?
Se quiser, eu mostro...
Ele deve ter engolido em seco, mas respondeu bravamente;
- Bah, não precisa, Índia.
Espero pra tu estar em meus braços.
Vou mandar uma passagem de avião.
Embarque em Foz do Iguaçu.
Ela veio, o encontrou, foram pra casa dele, treparam a noite inteira.
E foram felizes para sempre?
De certo modo, sim.
Após três meses de vida a dois, Eva começou a sentir falta de umas coisinhas.
Não que ele fosse ruim de cama, muitas vezes ela gozava, mas faltava algo...
Um dia, ela se tocou: estava tudo bem comportado demais, uma pitada de pecado, de transgressão, era essencial.
Recordou suas emoções ao se tocar, se acabar na siririca, ante os olhos ávidos da tigrada.
E percebeu que o sexo online havia lhe trazido prazeres indescritíveis.
Ou, quem sabe, feito aflorar a exibicionista que dormitava dentro dela.
Ficou uns 15 dias pensando no que fazer, até decidir-se.
Construiu um perfil falso nas redes sociais, com o nome de Exi.
“Se alguém achar estranho, explico que meus pais eram argentinos exilados, nasci no exílio, daí o nome”, disse a si mesma.
“E no Brasil há nomes tão estranhos...”.
O passo seguinte foi partir pra putaria, fotos de biquini ou com os lindos seios quase exibidos em um roupão semiaberto.
E aceitar, sem mais, quando os predadores que lhe pediam amizade implorassem por fotos nuas e vídeos e masturbando.
Foi assim que Eva, a Índia, fiel companheira de Olívio, passou a conviver com Exi, a exibicionista.
Agora sim, estava feliz de verdade.
Mas sempre havia, no seu harém, um imbecil que ousava manifestar sentimentos, falar de amor.
- Deu chabu, boludo – postava, antes de bloqueá-lo.