Sentindo o sonho
Viajando sobre as vagas que se despedaçam nas falésias das minhas insónias, estiquei-me para te amar na luminosidade cristalina do sonho que se ri da noite. Agora que o dia se deixa enredar pela obscuridade, deslizo pelos sonhos para esquecer tua ausência. Caminho pela planicíe avermelhada pelo sol que se esconde no horizonte.
A senhora lua canta em surdina, como que segredando uma melodia às estrelas de sorrisos azulados.
Apenas possuo na bagagem um tinteiro cheio de amor para alagar a tua boca de lábios carnudos, um amo-te transportado pela brisa quente dos meus desejos, eu que sou o desejo e vibro sobre o teu corpo que se entrega à minha lei.
Sobre a pele escaldante invento abraços do sol, miragens… recolho “bouquets” da tua alma implantados por minha insistência em ti, em nós…. Vem, vem esfregar a carcaça do meu barco que está à deriva nesse alto mar. O perfume saciado do gozo flutua no ar cúmplice e húmido. Uma hora de sobressalto no cadafalso da eternidade pertence-me ainda.
A claridade da aurora rasga o espaço e o dia nasce do vazio.
Deixo-te partir, mas regressas depressa às minhas quimeras.
Volto a adormecer.