Na minha opinião, não há paixões insuperáveis.
A paixão, quando surge, é sempre avassaladora e malvadamente
monopolizadora. Há um flash que nos cega repentinamente e faz-se luz: entrou a
paixão na nossa alma e tudo o resto deixa de ter sentido.
Vivemos dias de intensa euforia ou de grande angústia da perda. Damo-nos conta
que não conseguimos viver sem essa paixão e que todo o nosso mundo gira à sua
volta.
Enquanto que a paixão é correspondida, beleza e fascínio ditam
todo o nosso tempo. Nada pode interromper esse ciclo de felicidade.
Mas há um dia em que a paixão do outro lado acaba e surge com o fim do júbilo,
a mais dolorosa agonia. Sentimos que tudo se desmoronou à nossa volta. Um ser
que se nega e o mundo inteiro deixa de ter sentido. Instala-se um vazio mais
profundo que as fossas marítimas quando, por dentro, o vulcão continua aceso.
Não é fácil superar uma paixão. É preciso dar muito tempo ao
tempo para que todas as feridas tratadas e relambidas possam cicatrizar. É
preciso conseguir preencher o vazio de nós e ganhar forças suficientes para
conseguirmos abrir o coração de novo.
Na verdade, não há paixões insuperáveis. O que há é um grande medo de voltar a
viver, de voltar a ser vulnerável e de dar uma nova oportunidade, a alguém
imperfeito como nós e que poderá voltar a magoar-nos.
É muito mais fácil colocar uma paixão no altar da nossa memória, idolatrá-la perpétuamente do que a enterrar no passado e voltar-se para o mundo de coração
aberto…