Há pessoas que vão dizer: «- Nunca vou seduzir ninguém! Porque sou isto e aquilo isto é feio, gordo, magro, orelhas descoladas, penca grande, mamas grandes ou pequenas, cu grande, pernas de canivete, sinais e cicatrizes, etc.»
É verdade que, no primeiro impacto a aparência, é o que salta à vista. Também é verdade que todos os dias somos invadidos por imagens de corpos perfeitos, sem celulite, nem pança, peles e cabelos brilhantes, rostos harmoniosos… e por aí fora. Mas, isso é na primeira abordagem. Depois vem a 2ª parte. Para mim, a mais importante! Porque um bolo pode ter bom aspecto e o recheio ser intragável. Aí é que começa a sedução…
Seduz-me, numa mulher, uma certa ternura na entoação da voz, um riso franco, um olhar que se cruza com o meu, um sorriso doce, uma atitude confiante, um gesto subtil, palavras que embalam, uma mão bonita…
A sedução conduz a um estado mental diferente, de indiferente passamos a cativados e é como se ficássemos sob o poder do outro. Para o fascínio perdurar, tem que haver correspondência. Ausência, silêncio, não atender telefonemas ou não responder a emails (ou outras coisas) faz com que o estado de sedução esmoreça. Começamos a perder confiança em nós e no outro. Passado um tempo de vazio, o tal poder começa a desfazer-se. Surgem outras coisas e outros olhares podem prender a nossa atenção.
Seduzir é uma
coisa muito esquecida… diz o eco.
O que me seduz pode não te seduzir a ti.
O que é que te seduz num homem ou numa mulher?
Parece fácil
seduzir no século XXI. As pessoas estão à mão sob todos os aspectos isto é expõem-se mais (a vergonha e o pudor é para os cotas!) tanto a nível físico
como a nível pessoal.
É fácil conhecer gente nos bares, no café, no trabalho, na rua e ultimamente
na internet. Ele é chat(a)s, ele é eu procuro-te (icq), ele é mensageiros (msn,
multiply, h5,skipe), ele é amigos dos amigos dos amigos às toneladas (orkut) e sei lá
que mais.
O telemóvel permite-nos estar ligado ao mundo 24h/24h, em qualquer lado, a
qualquer hora, com quem quer que seja (que esteja fisicamente connosco e do
outro lado do fio).
Estamos aqui e em todo o lado. Estamos sozinhos e com toda a gente. Estamos
íntimos e sociais.
E…
Nunca as pessoas
se sentiram tão sozinhas, tão desconsoladas, tão irritadiças, tão agressivas,
tão desamparadas e tão depressivas, porque tanta comunicação e tanta gente nova
não trouxe mais relações estáveis, nem mais amigos verdadeiros e de confiança.
Os amigos vêm e vão. Os amores são efémeros. Os fios nunca chegam a dar laços e
muito menos nós.
As pessoas sentem, então, necessidade de arranjar alguém à força, uma alma
gémea que as tire dessa teia de momentos vazios. Mas as amizades e os amores
não se forçam. Ou há empatia e a amizade nasce ou o elo esfuma-se rapidamente.
Ou há sintonia e desejo e o amor floresce ou o amor morre na nascente.
Não nos devemos impor a ninguém. Não devemos dizer: – Cheguei e preciso já de ti! É preciso criar os fios invisíveis que nos ligam ao outro. Se for ao amigo, devemos criar um tecido de afinidades. Se for a uma paixão nascente, devemos criar o desejo do reencontro.
Não devemos dar-nos por inteiro logo nas primeiras abordagens. Lagos obscuros não incitam ao banho, mas transparência a mais também faz perder todo o mistério. Não devemos esperar muito do outro e tentar aceitá-lo como é, assim evitaremos as decepções de altas expectativas.
Seduzir é como ter uma cana de pesca e puxar alguém para nós com um fio. Se o fio for fraco, a sedução será desfeita. Se for forte demais, iremos aprisionar o outro nas malhas da posse. O fio deve ser suficientemente leve e forte para que o outro venha ter connosco sem termos de o puxar.
Sedução é uma coisa cada vez mais esquecida, disse o eco no país duma raposa e dum principezinho…