Queridas amigas e caros amigos, apesar da minha ausência por motivos pessoais, não quis deixar de vir aqui nesta data transmitir a todos vós os meus votos sinceros de um Feliz Natal com muitas felicidades, amor, carinho, amizade e.... muitas prendas no sapatinho. Não esqueçam de deixar uma peúga na chaminé, o Pai Natal levará a todos vocês minhas amigas e meus amigos, algo especial que o incumbi de levar; a minha gratidão a todos pela preocupação que têm transmitido das mais diferentes formas. Assim nessa peúga contem com a minha gratidão e profunda amizade. Um Feliz Natal a toda(o)s.
Muitos de vocês conhecem a minha opinião sobre esta época festiva, mas não deixo de o dizer uma e outra vez; o Natal é quando o Homem quer, este dia específico para mim pessoalmente, não deixa de ser uma hipocrisia mercantilista e comercial; fora as crenças de cada um e as tradições que este dia 25 de Dezembro engloba.
Esta introdução para dar um esclarecimento sobre o conto que aqui deixo, escrito pela madrugada e, por isso mesmo podendo conter partes menos interessantes ou ser um texto demasiado longo e cansativo, mas foi a forma que encontrei para transmitir a minha ideia de que o Natal é todos os dias.
Neste texto ficcional, o personagem principal é Martim, um motorista de bonde/carro de passageiros; que pratica no seu dia a dia o bem para com os outros.
Aproveito a proposta de Silvio / Batman, e apresento o meu texto para todos lerem.
Um Bom e Feliz Natal a todos mais uma vez.
NATAL no carro sessenta e oito
A história aconteceu no tempo em que os carros e
transportes de passageiros (bondes) andavam a vapor! As máquinas estavam
equipadas com uma armação de madeira para afastar os incautos, especialmente as
mulheres que, com os seus sapatos com saltos altos pavimento, caíam ao tropeçar
nos carris. No inverno, quando o soprava o Mistral, o frio era intenso e, os
bondes não tinham pára-brisa. O condutor, para se proteger estava muito bem agasalhado,
daí o seu apelido de Pele de Cabra.
Um dos motoristas do bonde chamava-se Martim. Ele
trabalhava na linha 68. Era um garoto afável, gentil, muito humilde e
inteligente, e sempre com um sorriso no rosto. Era muito apreciado por todos os
que usavam aquele transporte pela sua educação e enorme bondade. Ele amava o
seu carro e comportava-se com os passageiros como se fossem seus convidados. Martim
ajudava os idosos a subir e a descer e esquecia-se de cobrar bilhete às
crianças e, admitia até o que era proibido pela companhia; deixava que a bela
Francisca, a vendedora de peixe, ocupasse o corredor do carro com as cestas do
peixe, que o carvoeiro limpa chaminés Faustino ocupasse três lugares com todos
os seus apetrechos, que Mariquita a, vendedora de caracóis os deixasse pastar no
pequeno mundo que eram os bancos que o mercador Rodolfo escoasse os queijos perto
das portas ou que Luisa, a vendedora de
fruta, pelasse laranjas no corredor deixando as cascas no chão.
E depois havia o velho senhor que não queria ser
visto quando viajava no bonde. Sentava-se no banco de trás, de manhã muito cedo
e, apenas deixava o carro no fim do dia quando terminava de circular e fechava
as portas. Ele tinha uma grande capa, um chapéu de côco e uma gravata de
bolinhas e, leva sobre o ombro direito um pequeno macaco. O velho senhor estava
sempre com ar feliz e sorria para todos os que se cruzavam com ele.
Martim, à noite, ao sair do bonde, estalava os
dedos e, o carro ficava tão limpo como era encontrado de manhã. Nenhum traço de
baba de caracol, nem cascas de laranja nos corredores ou cheiro a peixe... Os passageiros
do carro 68 apelidaram-no de mágico!
As atenções de Martim para com os passageiros
tiveram o efeito de perturbar seriamente os horários rigorosos. E que dizer
sobre a receita insignificante da venda de “tickets” à noite! Isso só poderia
desagradar ao gerente da empresa, um homem sério esse chefe, de seu nome
Cristiano, mas todos o denominavam de cabeça de bode. Usava óculos e tinha
orgulho de sua barbicha cuidada e bem aparada.
Depois de várias chamadas de atenção à ordem e às
regras da companhia, Cabeça de Bode informou o jovem que o iria despedir se ele
chegasse mais uma vez com atraso ao horário.
Na manhã de 24 de Dezembro, Martim bem tentou, em
vão, apelar ao sentimento do chefe lembrando que esta noite era o Natal. O
chefe, sem se comover entregou-lhe o regulamento e, pediu-lhe para procurar o capítulo,
secção, parágrafo, onde se falava de uma possível isenção para incumprimento dos
horários por causa da natividade...
Para melhor garantir que Martin não excederia os
horários, pese embora as instruções, Cabeça de Bode decidiu acompanhar o motorista
durante todo o dia.
O jovem manteve as suas atitudes de cada dia, tomou
tempo para ajudar os idosos que subiam e desciam do carro; em seguida, com a
raiva no coração, fez as crianças pagar o lugar, pediu a Francisca a gentil peixeira
para não colocar as cestas no corredor, deixanso-o liberto para as pessoas
circularem, impôs tarifa tripla ao grande carvoeiro limpa chaminés, implorou à
vendedora dos caracóis para os manter fechados nas suas caixas, recomendou à
comerciante de frutas para não deixar escorrer o sumo pelas janelas, e não
deixar peles de laranja...
Uns e outros olhavam para Martim e Cabeça de Bode.
Todos balançaram as cabeças sorrindo e, observavam
sem dizer nada. Tudo sob o olhar do velho homem que tinha vestido o seu melhor fato,
um novo chapéu e uma bela gravata de bolinhas. O gerente da empresa achou esta
indumentária de muito mau gosto. Um homem daquela idade com um macaquinho no
ombro direito... Mas o homem sorria, como de costume, observando Martim não
prestando atenção a Cabeça de Bode.
O chefe estava enfurecido, tinha feito a promessa
de demitir Martim nesse mesmo dia; mas não encontrava motivos nem nada de errado;
o bonde não estava com nenhum atraso face ao horário.
O barbudo, azedo, decidiu então provocar um incidente
que servisse de pretexto para o despedimento.
Ao final da noite, enquanto que os habituais passageiros se acomodavam para o
regresso, o Cabeça de Bode substituiu a garrafa térmica por outra que ele tinha
sabotado; um buraco minúsculo deixava escapar o vapor e, assim o bonde avariou
e teve de parar.
- Você está quase despedido meu rapaz, rejubilava
o barbudo, despedido...
Foi então que o velho senhor interveio. Era,
aliás, um mágico que, a tinha viajado antes de se aposenta e ir viver naquela
cidade.
- Deixe-me ver isso! disse ele, inclinando-se
sobre o termo a vapor.
- Não toque no material da administração, gritou Cabeça
de Bode completamente fora de si.
Mas o velho senhor não se importava com os gritos
do chefe de serviço da companhia e, pegou na garrafa térmica, examinou-a e,
provavelmente, através de um passe de mágica, tampou o pequeno buraco. Em
seguida, soprou no gargalo, e substituiu a garrafa.
Martim colocou o bonde em andamento. O carro arrancou
e começou a subir de novo; nunca ela fora tão rápida e rolado tão bem.
Todos aplaudiram o velho homem; Francisca, a bonita
peixeira, o grande limpa chaminés, a vendedora de caracóis, a vendedora de
caracóis... todos, excepto Cabeça de Bode que uivava, espumando de raiva:
- Isso não é regulamentar, você está pronto para ser
despedido meu rapaz, despedido!
Mas Martim sorria, e ria com os passageiros.
Tocado pela demonstração de simpatia para com
ele, o velho senhor fez uma reverência. Ele pegou um pouco de pó do seu chapéu
e atirou sobre os passageiros.
Milhares de estrelas brilhavam no carro caindo
sobre uns e outros!
Uma velha senhora não podia acreditar no que os
seus olhos viam: o bonde 68 de descolava e voava sobre a cidade!
Cabeça de Bode gritava, esganiçado:
- É contra as regras, você está pronto para ser
despedido meu rapaz, despedido.
O velho senhor finalmente apercebeu-se da
presença do gerente; pegou na pele de
cabra que estava colocada no espaldar de trás do banco do motorista, e atirou-a
sobre Cabeça de Bode dizendo:
- De agora em diante merece o nome que tem!
E o digno chefe da companhia, transformado em
bode de barbicha, baliu:
- Despediiiiiiidooooo!Despediiiiiidoooo
Este ano o Pai Natal está muito cansado. O 68 encontrou-o...
Simpatizaram, lá em cima, no céu da cidade. E à meia-noite, estavam felizes
aqueles que distribuiam os presentes às crianças; um gentil e educado motorista,
sorridente e prestativo, que considerava os seus passageiros como convidados,
uma bela peixeira que entupia de novo com as suas cestas os corredores do
bonde, um grande limpa chaminés rindo e ocupando três lugares, uma vendedora de
caracóis que deixava o seu pequeno mundo pastar nos bancos, uma vendedora de
frutas, que aproveitou a oportunidade para deixar escorrer sumo para fora da
janela, e que, levada pelo entusiasmo, atirava laranjas pelas chaminés, enquanto
um bode feio balia:
- Despediiiiidooo! Despediiiiidooo!
Cabeça de Bode, pela manhã, voltou à sua
aparência normal. Afinal de contas, era Natal! A lição foi benéfica para ele,
nunca mais importonou Martim ...
O velho senhor continua a usar a sua grande capa,
o seu chapéu, a gravata de bolinhas e seu macaquinho no ombro direito... Agora,
ele prefere o metro!
Quanto ao gentil e bom motorista casou com
Francisca, a bonita peixeira, e tiveram uns filhos muito bonitos.
https://www.youtube.com/watch?v=JUoNZcyl0vE
https://www.youtube.com/watch?v=S6rZtIipew8