A minha fila emperra
A coisa mais natural que se ouve nos dias atuais é que "a fila anda". A minha não.
A minha desanda, emperra, estaciona.
A minha fila perde o ritmo, a cadência, a vontade.
A minha fila perde a pertinência.
A fila que anda fazendo molejo com os acontecimentos deve ter na veia um combustível melhor que o meu. Deve ter um aditivo contra o sangue que jorra nas veias e deve ter as veias cheias de óleo de entorpecimento.
Acho importante para mim e minha fila que ela simplesmente emperre de vez em quando.
Somente estando parada posso ter a noção da singularidade do momento, da discrepância do acontecimento e da proporção do dano.
Pois que a minha fila emperre.
Emperre sempre que algo sair pior que poderia, apenas por ego demasiado dos acontecimentos bestiais.
Pois que a minha fila emperre.
Emperre sempre que a confiança for dilapidada pelo patrimônio da inconsciência.
Pois que a minha fila emperre.
Emperre sempre e quando a vontade de fazê-la andar for somente um método de anestesiar meus sentimentos.
Quem sente não mente.
Quem mente não sente.
Deixa sentir.
Deixa doer.
Deixa emperrar.
Pra prosseguir de novo é preciso coragem de estacionar e consultar a direção. Pra isso só se deixando emperrar de vez em quando.