Outras vezes, depositamos tudo numa pessoa e o saldo é negativo. Poupamos para
ver render e o que colhemos são apenas dívidas, que o outro nos deixou no
coração, por pagar. A maioria das vezes, a conta flutua. Certos dias, os
movimentos são positivos, outros dias negativos. Temos que pedir empréstimo
para salvar em conjunto o que vai mal ou então simplesmente ficar no
banho-maria da poupança.
Quando chegam os dias de crise, as contas ficam congeladas e assim ficam também
as relações, mas nem todas. Alguns casais não desistem à primeira dívida e unem
esforços para ultrapassar a crise.
Nos dias de hoje, em que as pessoas parecem esponjas absorventes de afecto,
adere-se ao sobre consumo e investe-se naquilo que se poderá pagar só daqui a
uns meses, aposta-se nos gastos imediatos sem pensar nos juros dos empréstimos
que ficarão para o futuro.
Nas relações amorosas, não deveria haver cartões de crédito nem de débito. Talvez um simples mealheiro bastasse, um mealheiro onde todos os dias pudéssemos juntar pequenos tostões de afectos que, mais tarde, pudessem tornar-se um totoloto do amor…
Por via disso as
pessoas constroem muros em vez de pontes porque já foram magoadas, rejeitadas,
desiludidas, desencantadas ou traídas, porque já lhes mentiram ou se
aproveitaram da sua ingenuidade, porque deram quase tudo: os dedos e os anéis,
como na canção de Paulo Gonzo, e quase tudo foi demais…
As pessoas reagem com o fogo do dragão à dor ou como animal ferido que lambe as
suas cicatrizes, recolhido na sua toca. As pessoas choram, gritam, partem tudo
ou simplesmente emudecem e ficam vazias.
Construir muros torna-se imprescindível para a sobrevivência? É preferível permanecerem isoladas que abrir uma porta e arriscar a sofrer de novo? Há pessoas que não constroem um só muro, mas grandes muralhas espessas. Há pessoas que preferem muros de palha e quando vem o vento, esquecem as mágoas.
Um dia, uma janela esquecida é abertura para o muro deixar de fazer sentido. Nesse dia, chega um novo amor para ajudar a cicatrizar o que o tempo não conseguiu…
E hoje uma canção que me toca profundamente, o tema do filme "Les Misérables" na interpretação fantástica de Susan Boyle, um talento que surgiu no concurso "Britain Got Talents" Simplesmente memorável. De estar com atenção, e comover.