adelicato

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Baldio

Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo...
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...
(Mário Quintana)

Como a nuvem que chove nos telhados, este é o meu tempo. Escorro por telhados que secam ao sol. Eu que já fui nuvem caí pelos seus telhados e me perdi, gota a gota. Agora recolho-me em baldes sem propósito. Carrego-me em pequenas poças portáteis.


Falta pouco agora, eu me vou. E você fica, eu preciso ir. Eu preciso ter com o mar; mais água, eu viro onda. Preciso contar conchas. Quem sabe? Chover ao longe. Parto aos pingos para que você me deixe aos poucos, como um fim de chuva que se esconde atrás de raios de sol.


Dia após dia você vai se esquecer de mim. Como uma luz que falha então você começa a me perder. Como uma cor que desbota você não vai perceber o semitom com que me disfarço. E quando você menos esperar, uma brisa levemente quente no pescoço, quando você ouvir as notas de uma melodia antiga, um cheiro doce ou meio acre, um beijo particularmente longo, um dia diferente, você vai piscar e olhar em volta imaginando um déjà vu que num segundo surdo, talvez você nem note, não perceba e fique mudo... você nem vai saber como lembrar de mim.