Comemoramos aniversários de namoro e de casamento e jamais lembramos os marcos das amizades.
A amizade repousa num tempo indefinido e vago, sem festa, sem torta e sem parabéns.
É uma omissão injusta.
Favorecemos as amarras do romance e descuramos dos laços da fraternidade.
Ninguém festeja a data do primeiro encontro com um amigo muito especial.
Eu percebi a lacuna quando Eduardo Nasi, meu comparsa gaúcho radicado em São Paulo, lembrou-me de que em 15 de agosto completávamos 20 anos de amizade.
Eu ri e logo suspirei:
– Já foram duas décadas, hein? Meu Deus, como passou rápido!
Combinamos de jantar neste dia para vibrar com as bodas de porcelana da amizade.
Um encontro bem bagual: beber até passar mal, quem cair pagará a conta.
Um preço justo para a cara partilha de confidências,
pois atravessamos lado a lado as crises dos 20, dos 30 e dos 40.
Amigo é algo tão sério, que deveríamos pedir o ombro do sujeito para os seus pais.
Se pedimos a mão da mulher em casamento, o ideal é solicitar o encosto leal e fiel de nosso amigo com a mesma solenidade e tensão, olhando nos olhos dos progenitores e prometendo sinceridade e cuidado pela vida afora.
Afinal, o ombro dele será nossa fortaleza nas tristezas e nas separações, nos tropeços e nas fraquezas, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
Ele não é uma casualidade ou um golpe de sorte ou um resultado das circunstâncias. Amigo é destino, amigo é vocação, amigo é amor de anjo, amigo é inocência de intenção.
Longe de um amigo, não há casamento que resista e profissão que se sustente.
Antes de ver quem é a mãe do outro, somos apenas conhecidos.
Temos que frequentar a casa e a família, percorrer enterros e nascimentos, suportar a intimidade das contradições e oferecer conselhos com uma visão privilegiada de conjunto, antevendo de onde veio e quais são os seus problemas e lapsos de infância.
Pelo jeito, eu e Eduardo chegaremos às bodas de ouro.
Faltam ainda 30 anos, mas não tivemos nenhuma discussão
de relacionamento ao longo de nossa cumplicidade.
Fabrício Carpinejar