✩bell

 
lid geworden: 04-10-2016
um segredo: eu sou assim mesmo: esquisita, louca e feliz...
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psiuu....eu, etiqueta! ... ***

psiuu...
bom dia!

que seja doce...

rótulos são para produtos e não para seres humanos...
eu rotulo, ele rotula...nós somos rótulos?

SER-HUMANO02.jpg

Seria hipocrisia da minha parte dizer que não cometo a burra prática do etiquetamento humano . Por um lado, essa prática tem uma funcionalidade organizacional, já que ordena o mundo humano em prateleiras comportamentais.

Prateleiras? Sim. Como se tornou um dado, a compra em supermercados, onde os produtos são simetricamente compartimentados e divididos, nos faz reproduzir tal lógica para as relações humanas. Tendemos logo a procurar no outro o prazo de validade, o código de barra e até as recomendações nutricionais.

Como se fossemos produtos uns dos outros, a nossa primeira ação é criar o tipo ideal do outro. Ouço muitas pessoas dizerem, preocupadas, que hoje em dia não dá mais para saber quem é hétero, bi ou gay. Isso como se a “classificação” sexual fosse o guia central para que as relações humanas se desenrolassem. Gera-se, assim, uma série de expectativas com relação ao comportamento do outro. Engolimos esteriótipos que não foram verificados, empiricamente, por nós mesmos, e a partir deles abrimos espaço para a ala da ignorância.

Podem até defender que isso é uma prática natural, já que visa o melhor conhecimento do mundo e, logo, colabora no processo de seleção natural e de evolução da espécie. Mas a linha que separa a defesa, contra as incertezas do mundo e a paranoia aristocrática da classificação hierárquica, é muito tênue e quase sempre nos derruba em armadilhas.

O sociólogo americano, Peter Berger, diz que o ser humano é burro por natureza, já que não pensa sobre as instituições nas quais está inserido. Tomamos como verdades absolutas questões corriqueiras. Associamos, assim, ações humanas com tipos ideais, colocando um rótulo quase que antes de realmente olhar o “produto”.

Não somos produtos e as embalagens quase nunca dizem bem o que carregam dentro. A ordem está invertida, deveríamos primeiro conhecer para classificar e não conhecer a partir de classificações “metafísicas”.

Usei a primeira pessoal do plural. Não estou imune. E deveria estar? “Quem são eles? Quem eles pensam que são?”

Êta sociedade ocidental de consumo besta sô!

Pra ser bonita tem que ser burra,
Pra ser desejada tem que ser magra,
Pra ser feliz tem que ser casada,
Pra ser realizada tem que ser mãe,
Pra ser reconhecida tem que ter dinheiro,
Pra ser respeitada tem que ser famosa,
Pra ser perdoada tem que ter religião declarada,
Pra ser boazinha tem que engolir sapo,
Pra ser gentil tem que calar o que pensa,
Pra ser inteligente tem que agradar a plateia.

ao final eu rotulo, ele rotula, nós rotulamos...

"EU, ETIQUETA" de Drummond

"Em minha calça está grudado um nome 
que não é meu de batismo ou de cartório, 
um nome... estranho. 
Meu blusão traz lembrete de bebida 
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro 
que não fumo, até hoje não fumei. 
Minhas meias falam de produto 
que nunca experimentei 
mas são comunicados a meus pés. 
Meu tênis é proclama colorido 
de alguma coisa não provada 
por este provador de longa idade. 
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, 
minha gravata e cinto e escova e pente, 
meu copo, minha xícara, 
minha toalha de banho e sabonete, 
meu isso, meu aquilo, 
desde a cabeça ao bico dos sapatos, 
são mensagens, 
letras falantes, 
gritos visuais, 
ordens de uso, abuso, reincidência, 
costume, hábito, premência, 
indispensabilidade, 
e fazem de mim homem-anúncio itinerante, 
escravo da matéria anunciada. 
Estou, estou na moda. 
É duro andar na moda, ainda que a moda 
seja negar minha identidade, 
trocá-la por mil, açambarcando 
todas as marcas registradas, 
todos os logotipos do mercado. 
Com que inocência demito-me de ser 
eu que antes era e me sabia 
tão diverso de outros, tão mim mesmo, 
ser pensante, sentinte e solidário 
com outros seres diversos e conscientes 
de sua humana, invencível condição. 
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro, 
em língua nacional ou em qualquer língua 
(qualquer, principalmente). 
E nisto me comparo, tiro glória 
de minha anulação. 
Não sou - vê lá - anúncio contratado. 
Eu é que mimosamente pago 
para anunciar, para vender 
em bares festas praias pérgulas piscinas, 
e bem à vista exibo esta etiqueta 
global no corpo que desiste 
de ser veste e sandália de uma essência 
tão viva, independente, 
que moda ou suborno algum a compromete. 
Onde terei jogado fora 
meu gosto e capacidade de escolher, 
minhas idiossincrasias tão pessoais, 
tão minhas que no rosto se espelhavam 
e cada gesto, cada olhar 
cada vinco da roupa 
sou gravado de forma universal, 
saio da estamparia, não de casa, 
da vitrine me tiram, recolocam, 
objeto pulsante mas objeto 
que se oferece como signo de outros 
objetos estáticos, tarifados. 
Por me ostentar assim, tão orgulhoso 
de ser não eu, mas artigo industrial, 
peço que meu nome retifiquem. 
Já não me convém o título de homem. 
Meu nome novo é coisa. 
Eu sou a coisa, coisamente."

apenas um tema pra se pensar!
beijos e carinho, bell

https://www.youtube.com/watch?v=uPFlfTtXGm4

pesquisa: alma no varal, textos de Drummond, guilherme claudino cafébossanova