Ainda que não queiramos ou não consigamos ver ou sentir,
não existe sombra sem luz, lagrima sem sorriso, derrota sem
vitória, inverno sem verão, outono sem primavera, desilusão
sem esperança, velhice sem juventude, morte sem vida e
tampouco solidão completa ...
Em sua infinita bondade, o Criador pensou em tudo para que
jamais pudéssemos viver, um minuto sequer, sem sentirmos
que simultaneamente aquilo que não nos agrada existira,
sempre, um perfume, uma cor, uma sensação, uma visão, uma
atitude, um gesto, um gosto que nos faça bem, que nos faça
lembrar a importancia de tudo que existe em nossas vidas, em
nossos corpos, na natureza, no Universo ...
Ha determinadas fases de nossas vidas em que tudo nos parece
ter chegado ao fim, em que nos confinamos em nós mesmos,
como se pérolas dentro de ostras, criando uma redoma que nos
afaste do alcance do mundo ...
Nessas ocasiões, fechamos os olhos e não conseguimos olhar
sequer para o nosso interior, tapamos os ouvidos e não ouvimos
nem mesmo os gritos de nossa alma, cerramos a boca e nos
proibimos até que sintamos o nosso próprio halito, vestimos um
manto nos furtando o direito de sentirmos até mesmo o frescor
de uma suave brisa que poderia ser o toque magico que a natureza
nos fornece, presenteando-nos com a certeza de que a vida existe
através do ar que respiramos, da sensibilidade existente em nossa
pele, da caricia divinal que nos toca ...
E, se não acordamos em tempo, corremos o sério risco de nos
mantermos vegetando, sem aproveitarmos as oportunidades de
vivermos momentos que nos elevam, que nos ensinam, que nos
permitem evoluirmos espiritualmente, razão maior desta vida ...
Quando crianças, queremos aprender e entender, e vivemos
perguntando, ansiosos por respostas que satisfaçam a nossa
curiosidade ...
Chegamos a juventude e, certos de conhecermos melhor a vida do
que os adultos e os velhos que, aos nossos olhos, não souberam
aproveitar tanto quanto nós e tampouco tiveram condições de tanta
aprendizagem, passamos a querer mudar tudo que não condiz com
aquilo que julgamos verdadeiro, promissor, autentico ...
E nos permitimos paixões de todos os tipos, por pessoas, pelo
trabalho, pelos esportes, pelo estudo, por valores que são tão nossos
e que nos orgulhamos de apresentar aos outros ...
E discutimos, e nos expomos ...
E sonhamos ...
Ah, como sonhamos ...
Adultos, nos deparamos com o excesso de responsabilidades,
compromissos, e, apesar de uma grande corrida contra o tempo,
somos abençoados com a possibilidade e a concretização dos nossos
mais remotos sonhos, formando uma família que nos tem por raizes,
através da qual podemos materializar o nosso aprendizado, entregarmos
todo nosso amor, colhermos os mais saborosos frutos nascidos do
carinho e das sementes que regamos com amor e cuidado, dentro dos
principios de moral, fé, dignidade e responsabilidade que aprimoramos
durante a nossa existencia ...
E, num dado momento, nos sentimos gratificados a sensação do dever
cumprido ...
Os cabelos se tornaram brancos, a pele já não tem a suavidade de uma
pétala de rosa, ha marcas do tempo em nosso corpo, a velocidade diminuiu,
o cansaço fisico se faz presente mais acentuadamente ...
Mas, como não poderia deixar de ser, e a exemplo do que fizemos por toda
vida, passamos a refletir sobre tudo que plantamos, tudo que colhemos, tudo
que conquistamos, tudo que perdemos ...
E constatamos quantas foram as nossas perdas ...
Perdemos pessoas que amamos muito, pois assim é a vida ...
Temos um tempo limite para permanecermos nesta vida material ...
Alguns, por mais tempo, outros, apenas marcam sua existência entre nós ...
Sofremos inumeras decepções, vimos sonhos que tinham tempo certo para
serem realizados, não concretizados ...
Detectamos quantas vezes falhamos, nos omitimos, nos amedrontamos,
tiramos o nosso time de campo antes do momento certo, as vezes pela
nossa impaciencia, outras pela nossa ansiedade, muitas pela desilusão e
desesperança, inumeras pela nossa incompreensão, tantas pela nossa
covardia, outras pela absoluta falta de fé, em nós mesmos ou em Deus ...
Mas toda moeda tem duas faces ...
E jamais podemos deixar de olhar o outro lado ...
Durante essa mesma reflexão, é imperioso que saibamos valorizar tudo que
ainda esta ao nosso alcance ...
Ao alcance dos nossos olhos, dos nossos ouvidos, do nosso tato, da nossa
boca, das nossas mãos, das nossas pernas, dos nossos braços, do nosso
coração ...
E o nosso primeiro agradecimento e satisfação devem ser a capacidade de
pensar, de refletir, de ponderar, de analisar, que continuamos tendo ...
Direitos inalienaveis e intransferiveis que nos acompanham desde que
nascemos ...
Capacidade de enxergarmos, ainda que o órgão da visão já não funcione com
a perfeição de outrora, a beleza das cores, da natureza, do ser humano, dos
animais, dos alimentos, das flores, do sol, das estrelas, do luar, do mar, da
frigidez de um olhar ...
Capacidade de sentirmos os perfumes que nos envolvem, das flores, dos
alimentos, das arvores, do mato, da terra, de cada ser, o nosso próprio ...
Capacidade de ouvirmos cada som que chega até nós, o cantar dos pássaros,
a melodia do vento, o uivo do cão solitário em plena madrugada, o choro de
uma criança e também dos adultos, o som da TV, do radio, do teclado, do
ventilador ou do ar condicionado, da mosca ou pernilongo que zumbe no
ambiente aparentemente silencioso em que nos encontramos, da água pingando
de uma torneira, das ondas do mar no seu vai-e-vem, dos gritos da nossa alma ...
Capacidade de sentirmos o sabor dos alimentos, de um beijo, da lagrima que
nasce dos nossos olhos para morrer nos nossos lábios ...
Capacidade de utilizarmos o nosso tato, apurando a diferença entre o liso e o
enrugado, o quente e o frio, o seco e o molhado, o calor de outro corpo, alem
do nosso próprio ...
Capacidade de nos locomovermos, de abraçarmos, de pegarmos no colo, de
buscarmos um colo, de nos tocarmos e nos sentirmos absolutamente vivos ...
E, divinamente, a eterna capacidade de continuarmos sonhando, realizando, nos
doando, nos entregando, nos amando e amando incontestavelmente aos nossos
irmãos, aos nossos frutos e a quem aprendemos a amar nesta e em outras vidas
e que amaremos eternamente ...
E todas essas certezas nos levam a concluir que jamais estamos ou estaremos
solitários ...
Muito mais do que a presença de outro ser ao nosso lado, temos a nossa própria
presença e, acima de tudo, a presença do Criador que, em momento algum, permitiria
que algum dos seus filhos vivesse na solidão, nem que quisesse por, na sua ignorancia,
acreditar que isso seria possivel ...
Temos pleno conhecimento de que o nosso tempo nesta vida terrena é limitado, graças
a Deus ...
E, exatamente por isso, é nossa obrigação vivermos cada momento da melhor forma
possivel, aproveitando os nossos dons, aplicando o nosso aprendizado, praticando os
conhecimentos que adquirimos não só nesta vida, mas em todas as nossas existencias,
agradecendo, todos os dias, pela nova oportunidade que temos de evoluirmos sempre
um pouco mais ...
@njo
Porto Alegre / Rio Grande do Sul
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