Guerreira Misteriosa

Hoje, terás tudo, haverá mais de mim,
Deste que creio ser quando vou sendo
O que supõe tudo de ti obter nada tendo...
Do que começo e que nunca tem um fim.

Hoje, superar-te-ei nestes lençóis de cetim
Onde te possuo p’lo que tu me vais dizendo
Pois s’o gozo é grande, o meu será tremendo
Desde que sei que o teu não quer dizer sim.

Hoje, seremos um só, qual bizarra criatura,
Monstrengo qu’esbraceja e que, doido, s’agita,
Qual possesso tido por uma alma obscura,

Seremos tud’aquilo que isto em ti suscita,
Querer que t’enlouquece e que me tortura
P’ra não ficar aquém de tudo quanto t’excita.

Entre um beijo e um afago, confessa
Que nunca se sentiu assim, como se sente
Naquele momento tão etéreo e aparente...
Em que nada mais p’ra lá disso interessa.

“Mas há algo à nossa espera”, diz, sem pressa,
Quem a vai beijando d’um modo convincente,
“Tod’um mundo que nos tem sido indiferente
E que isso mostra duma forma bem expressa.”

“Não quero saber”, pronto refuta, algo brusca,
P’ra logo se remir com um sentido abraço
E com um beijo que aquele instante ofusca

P’ra alguma consternação e embaraço
Daquele que entre ambos ainda algo busca
Quando ela, por si, já ia p’ró seguinte passo…

“… e basta uma palavra, apenas isso”,
Sublinha quem naqueles braços desfalece
Porque no amor nem tudo é o que parece,...
Sendo o mago alvo do seu próprio feitiço…

Ela nada diz, p’lo que toma como omisso
O sentir no corpo que tanto lh’oferece,
O desejo que confessa em jeito de prece,
O qual o deixou em tal estado, tão submisso.

“P’ra ti, basta”, diz, “mas, p’ra mim, não chega.
Quero muito mais do quanto podes oferecer”,
Confirma ela, álgida, qual estátua grega.

Tomado, então, p’lo orgulho, ele faz saber
Que, enquanto no seu regaço s’aconchega,
Ela será sua, até mesmo depois de morrer.

Sinto saudades, ó Vida, quem mais quero,
Apesar de te ter neste viver hodierno,
Nos dias que compõem o meu inferno...
Por seres o éden que busco, sou sincero.

Sinto a tua falta, ó Vida, assim reitero,
P’lo que no que tenho sido me consterno,
Pois um mero dia sem ti semelha eterno
Nesta ausência breve em que desespero.

Careço sempre da visão dos teus contornos,
Dessas linhas curvas onde me perco e acho
Nos instantes por vezes mais ternos e mornos

Em que te beijo devagar enquanto relaxo
Antes de te ter, sendo esses braços os tornos
Que me prendem quando certos pudores despacho…

A vida é bem assim
A gente escolhe um caminho na esperança de que ele vá nos conduzir a um lugar de alegrias .Tolos que nós somos, pensamos que a alegria está no final do caminho. E caminhamos distraídos, sem prestar atenção. Afinal de contas, caminho é só um caminho. Passagem, não é só um ponto de chegada. Com frequência, a gente não chega lá, porque morre antes. Mas há uns poucos que chegam ao lugar sonhado só para descobrir que a alegria não mora lá. Caminharam sem compreender que a alegria não se encontra ao final, mas às margens do caminho.