Não deixar florescer uma ideia é o mesmo que não deixar uma criança nascer.
Em silêncio a ideia é trabalhada dentro de nós, esta vai criando forma, face, como uma criança sendo gerada.
Quantas ideias ocultas vivem mudas em nós?
Lembrei-me de um poema de Camilo Pessanha, cujo nome é "Poema Final" e resolvi postá-lo neste meu espaço. Linguagem simbólica que nos remete a pensar. Mundo das pontecialidades - possibilidade do "eu" libertar-se.
Poema Final
Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
_ Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias,
No limbo onde esperais a luz que vos batize,
As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
Tão graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clepsidra,
Vagamente sorris, resignados e ateus,
Cessai de cogitar, o abismo não sondeis.
Gemebundo arrulhar dos sonhos não sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E no vento expirais em um queixume brando,
Adormecei. Não suspireis. Não respireis.
Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'
Torna-se luto quando se perde um grande pensador. Quantas ideias com ele se foram... Ele nem sabia que eu o lia, que concordando ou não com suas ideias, elas faziam o meu cérebro fervilhar. Estou em luto e luto por todas as crianças/ideias que não tiveram a oportunidade de nascer.
Ah, essa linguagem simbólica de Camilo Pessanha me faz delirar!