I
Alguns considerandos sobre o amor, e as dúvidas que nos assolam tantas vezes. Tenho pensado muito desde que terminei uma relação de mais de 2 anos, e daí a pergunta em jeito de afirmação. Acontece? Não se procura?
O amor não se encontra nem se procura. O amor simplesmente
ACONTECE.
Acontece entre duas pessoas que precisam de uma mudança. Sentem-se finalmente a
sair de um período de encarceramento e sabem que vão reencontrar a sua
verdadeira essência num novo enamoramento.
O amor não se procura e, mesmo que se procurasse, onde está ele? Nas
discotecas, em locais de engate? Na Internet, local de ilusões e desilusões? No
trabalho, onde estão sempre as mesmas pessoas? Nos ginásios, onde se exibe o
corpo perfeito, de forma a atrair pelos olhos e não pela alma?
Nem o amor se encontra. Não bate à porta de repente, a não ser que esteja no
rapaz/rapariga que entrega as pizzas…
O amor acontece. Por vezes, surge de repente: amor à primeira vista. Outras
vezes, edifica-se com a ajuda da amizade…
O amor acontece e nem sempre é recíproco. Às vezes, amamos quem nunca nos irá
amar de volta.
O amor acontece e, sendo recíproco, nem sempre funciona, devido a grandes
diferenças culturais, comportamentais, ou outras razões. Porque simplesmente um
deles apenas ama de forma idealizada e não põe o amor em prática.
O amor acontece e às vezes morre por falta de intimidade, falta de empenho e de
carinho.
Não vou procurar o amor nem o amor me vai encontrar. O amor acontece…
II
É verdade. O amor acontece quando se tem disponibilidade
interior. É no tal momento em que nos sentimos preparados para uma mudança
interior. Porque sim, o amor transtorna-nos completamente, obriga-nos a
reestruturarmo-nos e a deixar que alguém invada a nossa intimidade.
O amor não acontece nas pessoas que vivem viradas para o passado, agarradas a
recordações boas e más.
O amor não acontece em pessoas fechadas, narcisicamente viradas, apenas, para
si próprias (é redundante, eu sei).
O amor não acontece em pessoas traumatizadas com maus tratos amorosos e que têm
medo de voltar a sofrer.
O amor não acontece em pessoas que criam dependências afectivas porque, em vez
de amar, apenas transferem carências emocionais para o outro, sem o amar
verdadeiramente pelo que é.
Essas pessoas precisam de fazer um exercício interior, muitas vezes doloroso,
de forma a compreenderem o que sentem, o que as castra, o que as impede de
amar. Às vezes, não o conseguem fazer sozinhas e precisam de ajuda de um
terapeuta. Outras vão lendo e aprendendo com as experiências.
Quando, finalmente, reencontram o equilíbrio interior, estão prontas, e o amor
acontece…
III
O amor não entra nem sai do coração. Não há uma porta que se
abre para um novo amor, nem uma porta que se fecha e impede o amor de
acontecer.
O amor sente-se no coração, quando ao vermos o nosso amor, ele acelera. Porém,
o amor não está no coração. O amor está nos nossos cinco sentidos, na forma
como vemos, ouvimos, tocamos, provamos, cheiramos, sentimos o mundo. O amor
está nos sentidos, que chegam até ao nosso cérebro que traduz os estímulos
visuais, auditivos, tácteis, gustativos, olfactivos, em emoções, ideias,
pensamentos, sentimentos, inferências, vivências…
Nós somos o que nós pensamos… Os nossos pensamentos são filtrados através da
nossa cultura, da nossa raça, do nosso património genético e dos nossos
valores. E assim, também é filtrada a nossa capacidade de amar…