acma1953

joined: 2011-01-03
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O azarado do Lopes

O LOPES AZARADO


O senhor Lopes pressentiu que ia ter um dia mau. Péssimo, aliás, desde o momento em que falhou a palmada no despertador e acertou em
cheio no copo de água que se estilhaçaria no chão.O mesmo aconteceria pouco depois à jarra preferida da sua namorada agora ex, entretanto telefonara a partir-lhe o coração com a triste notícia do final da relação a dois.
Em cacos a sua vida porque a sorte andava fugida e nada parecia correr bem.
Nem mesmo a simples arrumação dos seus pertences na mala de viagem, o perfume na bagagem de um frasco que fraquejou sob demasiada pressão.
Aquela que sentia em cada gesto que fazia, receoso de mais perdas desastradas e de outras cenas maradas que pudessem atrasá-lo para o check in.
Regava as plantas no peitoril da varanda quando o telemóvel tocou e no momento em que se virou o cotovelo à solta pregou-lhe uma grande partida. Observou a queda da sua belíssima begónia a partir do sexto andar, apenas dois abaixo do seu, inclinado na posição ridícula que a tentativa frustrada de evitar a queda lhe proporcionou.
E obviamente reparou como o vaso tocou de raspão na cabeça do pior vizinho possível, apenas o bastante para desviar a rota para o vidro da frente do carro estreante da família Almeida, os coléricos do rés-do-chão.
A maior confusão armada, uma vizinha desmaiada, alguém chamou a polícia e o senhor Lopes foi prestar declarações. Uma eternidade passada na esquadra, o agente sem pressa a buscar no teclado cada vírgula ou til. E o xis, onde está? Mais a porra do agá sempre presente nas muitas entradas do verbo haver.
Haver até havia, mas aquele início de dia acabou aos poucos com as hipóteses que o senhor Lopes tinha de chegar ao aeroporto a horas. Quando finalmente entrou em casa, depois de entornar uma bica sobre as calças e observar mais um objecto estoirar no meio do chão, era mesmo tarde demais, o avião já descolara e sendo assim nem sequer tentou.
Deitou-se mais cedo, contrariado, demasiado enervado para ver um pouco da televisão onde os destroços do seu avião abriam os especiais informativos de todos os canais a essa hora.…

 


Sonho quando me deito sobre o teu peito

Quando me deito sobre o teu peito consigo depois concentrar a fadiga do olhar no aconchego repousante da tua beleza que não é uma qualquer, e que me faz sonhar. Sem reservas nem porquês e sem pensar apenas confiar a vista a uma questão de pormenor especial e deixá-la perder-se no prazer do usufruto da luz nos seus incontáveis prodígios de refracção que produz,na chispa brilhante e ocasional que acorda a visão para o momento em que a sensação de movimento é transmitida por um simples reflexo num pequeno lençol.
De água parada no tempo e agitada pelo vento que a arrepia no que os olhos entendem como uma ligeira ondulação e o murmúrio da rebentação nas margens de um lago ao som de um beijo como a água o dá. Dessa forma ou pela chuva a cair, as gotas que acariciam os rostos como lágrimas doces de uma alegria incontida pelo usufruir de uma vida que também se faz de insignificâncias assim. Um horizonte sem fim de coisas belas e sem relação com qualquer tipo de pressão das que cansam a mente e a afastam do simples que a defende das mazelas provocadas por inúmeras complicações.
Um ponto isolado no céu, o reflexo prateado nas penas de uma ave que imita como pode as estrelas ansiosas pela noite a cair ou os arco-íris espontâneos que se desenham por cima das rochas, nos borrifos das ondas, e desaparecem depois. Uma única exibição, sem direito a reposição nos olhares distraídos daqueles que se encontram perdidos a vaguear pelos meandros mais escuros do seu interior e que já não distinguem o amor das coisas feias que os atormentam nas histórias que inventam a partir de um quotidiano sem cor. Arrastamos os pés pelo areal, incapazes de nos alhearmos do mal que nos possui e do desencanto que nos destrói a fé na beleza que a toda a hora está a acontecer.
Já nem conseguimos ver os pequenos pontos de luz serena oferecidos na presença terrena e esbanjados como o resto da existência na sua versão generosa. As pétalas suaves de uma rosa que te dou acabada de desabrochar no reflexo de um olhar comandado pelo coração.

 


Os seis sentidos

Ao desenhar o teu corpo com o olhar de contornos percorridos aos poucos para forçar na minha memória os traços permanentes de tão magnífica visão.
Moldar o teu corpo com as mãos, pressionando a carne com os dedos que a agarram como um náufrago abraça uma tábua de salvação e depois passeiam, em dedinhos de lã, pela linha costeira da tua beleza traseira que se arrepia como se beijada por uma brisa fresca no final de uma tarde de Verão. Aspiro o teu corpo com o olfacto numa variedade de fragrâncias que se espalham no acto de libertação de uma pele dos trapos que a impedem de respirar numa essência de desejo no teu perfume intenso de mulher.
Saborear o teu corpo com a língua, a pele macia em emissão contínua nos transmissores que enviam à mente e seus sensores as ondas de choque variáveis, pois nos pontos mais sensíveis cada toque desperta no corpo a energia contida de duas placas continentais e ouvir esse corpo gritar ainda mais o prazer na voz alterada de mulher quando nela se produz algo parecido a uma explosão interior, no som de quem faz o amor mais ardente a um ritmo alucinante e se entrega por inteiro a um momento irrepetível na pauta das emoções.
Amar o teu corpo com o coração e estimular-lhe a tesão mais completa na humidade espontânea da mente erecta pela paixão que o romance atiça num fogo que se espreguiça pelo olhar até o vento soprar de uma boca que beija esse corpo que deseja deixar-se consumir pelas chamas crepitantes, o cheiro a queimado de amantes no lençol encharcado pelo rescaldo que o reacendimento implicou.
E mesmo assim não se apagou, o amor ardente e trepidante promovido a almirante nessa noite de vontades latentes num fogo de lareira ondulante.  Foi nesse instante que o sexto sentido de chama ardente de desejo incontido e flamejante, explodiu.
Amo este amor fulgurante de murmurios sussurrados.

Deixo ficar por aqui

Meu amor deixa-me percorrer o teu corpo como uma estrada sem fim, calcorreada por mim à procura de nós, apenas guiado pelo som da tua voz num destino tatuado no caminho traçado pelos contornos desse horizonte que desenhas no ponto onde se aconchegam os meus olhares embevecidos.
Deixa-me cerrar as pálpebras para estimular outros sentidos, tactear às cegas com o palato a mensagem sonora na tua boca, pontuada pelo ritmo crescente do bater do teu coração como sinais de fumo na evaporação do suor que tento arrefecer com um sopro de amor, na brisa que os meus lábios libertam quando te ofereço num murmúrio as palavras que não consegues dispensar.
Deixa falar esse corpo que percorro em busca de socorro para o desejo que se apodera de mim como uma aflição e beijar a tua mão, princesa, quando te exprimo a certeza de que reconheço este percurso como a palma da minha que te aplaude em surdina enquanto passeia à deriva por todos os teus pontos cardeais. Como a Rosa dos ventos no carinho desses momentos em que te toco de raspão com o fósforo que incendeio, pontas dos dedos, o fogo que ateio nos pelos eriçados, selvagem, que despertam alvoraçados pela passagem subtil desta emoção que te transmite a minha mão quando te sonda devagar. Essa boca para eu beijar, oxigénio, salvação, meu Deus falta-me a respiração, o ar rareia no cimo desse teu peito a que me agarro com medo de cair para o abismo que a tua ausência produziria, e decerto mergulharia para a minha morte emocional.
Finco-me num ponto seguro para lutar por um futuro na terra natal em que te transformas quando regresso ao lar que construíste para nós, mesmo à beira de uma escarpa que desafia o meu olhar quando espreito pelas janelas que a tua paixão abriu, e vejo como a vida que me sorriu, tardia, no instante em que oferecia a um viajante desnorteado esse rumo acertado num cruzamento feliz.
O instinto que me diz sei bem para onde vou.
Perder-me em ti para saber onde estou, amando-te e amando-me.

 

 

 

 

 


Parte de mim

Tenho como dado adquirido que a escrita é uma arte como outras, assim gosto de a entender. Sucede também com a escrita o que por ventura sucede com outras artes como a pintura, a música ou até a dança, para qualque delas a inspiração é fundamental. Assim é para mim, tenho de me sentir com inspiração e ser capaz de pegar numa paleta de palavras, numa caneta com ou sem teclas feitas pincel, e encher esta tela com as cores da minha emoção ou a que outros fazem acontecer, e como sabem falo muito sobre o amor, e isso tem uma razão, um motivo, a tal fonte de inspiração.
Gosto de me ver pintor, artista mesmo não o sendo, mas sonho que pinto fazendo do teu corpo uma tela onde projecto os meus desejos, por isso também acredito que é possível fazer arte com as palavras mais a alma que me faz. De carregar do cinzento da ira o mesmo céu que antes brilhou azul num estado de espírito cheio de sol e de espalhar o vermelho quente da minha paixão exactamente no mesmo chão/corpo teu, onde antes derramei as cores das palavras que falam dos meus amores caídos como anjos no paraíso da tua beleza.
Adoro enfrentar o duelo com o espaço branco por preencher de mim ou de quem me suscita algum tipo de vibração, as histórias que tento contar com o coração ou com a cabeça, antes que ela esqueça os pormenores que interessam para colorir esta tela que os olhos de alguém irão depois apreciar, os teus em primeira instância que serão os de aprovação que me permitam então, talvez; partilhar as emoções que reinam em cada pedaço do que sou, em cada texto que te dou.
Cada texto um novo quadro pintado com as melhores palavras de que disponho para a combinação de tons, a evocação de sons, os detalhes que transmitam com a máxima clareza aquilo que pretendo dizer sob a forma de expressão que melhor consigo usar.
É isso que me move acima de tudo nesta demanda pela atenção que me podes dar, e na que os demais queiram apreciar. Nada mais tenho a ganhar com esta entrega de boa parte de mim, talvez o melhor de tudo aquilo que sou.
E é isso que dou aqui, parte de mim, tão genuína quanto sou capaz de a retratar. Apenas um homem sedento de amar o muito que a vida tem para apaixonar qualquer um, empenhado em exprimir esse sentir sem medo algum. Á vista de quem encontre a sintonia perfeita com as cores que utilizei ou mesmo dos que me rejeitem à partida e se estejam nas tintas para a essência daquilo que me move ou para a beleza que por vezes sou capaz de reproduzir.
Gosto de escrever, mas preciso de motivação porque aquilo que tenho para dizer são imagens da minha forma de sentir o mundo que me rodeia. Prefiro uma emoção a uma ideia, nada mais. Por isso não inspiro respeito a intelectuais, mas sei que consigo falar a língua dos amantes nos momentos relevantes em que provo seja a quem for que trato por tu o amor e essa é uma certeza que me basta.
Não pretendo saber um pouco de tudo, mas exijo que um ombro desnudo de mulher, de ti; não tenha segredos para mim quando o pinto com as palavras intensas e bonitas que lhe façam justiça, uma cor perfeita, e retribuam um pouco do prazer que me provoca a sua contemplação.
Justiça feita ao que a vida tem de mais maravilhoso para me encantar ou antes pelo contrário, quando a razão me aperta o coração com realidades que me chocam ou apenas me provocam e eu, zaragateiro, não sou capaz de me ficar como preferiria.
E escrevo o que diria, sem hesitar, aquilo em que acreditar, todas as cores da emoção que me subjuga e me conduz por caminhos que nem sempre jogam certo e se reflectem depois em textos carregados de borrões.
É disso que se trata aqui. Tudo mais são ilusões ou equívocos iguais aos das pessoas normais como eu gostaria de me acreditar.
Isso mais a magia da libertação, a força indomável da expressão que aprendi a respeitar e que amo acima de quase todas as coisas.
Parte de mim, para te dar meu amor, outra bem importante para vos dar, meus amigo(a)s.