Conchas,
A madrugada encolhe-se sob um édredon de nuvens, como um coração ansioso no oceano morno dos teus braços. A chuva durante a madrugada recita suspiros sobre os telhados e, na sua imprudência destila carícias nas folhas das árvores. O tempo corre e tenta fugir das amarras impostas por um céu cor de chumbo onde as estrelas aguardam um abraço em silêncio.
Soam murmúrios provenientes de ondas enrolando no areal que absorve a espuma de um amor pejado de desejos irreprimiveis.
O dia começa a nascer, incorruptível tingindo o céu como se fosse uma pintura desfocada sobre uma tela, a tela que pinto com as nossas lembranças. O vento sopra, afastando as últimas sombras levemente que invadem os meus pensamentos onde tu és a porcelana mais fina e delicada.
Ao longe, o molhe pejado de gaivotas que rasgam o silêncio com um efémero recital interrompendo os devaneios espalhados na tela pintalgada. Será que vens somente ao entardecer e entrarás então na minha redoma?
Mesmo que o céu continue uma batalha com o oceano, guardarei para ti belas conchas que te vão contar segredos… a linda e terna história de dois amantes.