acma1953

 
registro: 03/01/2011
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O estranho caso do assentador de tijolos

Abaixo está a explicação de um operário português, acidentado no trabalho, à Cia.Seguradora. A Cia. de Seguros havia estranhado tantas fracturas em uma só pessoa, num mesmo acidente. Curioso é o fato de que se tratar de um caso verídico, cuja transcrição foi obtida por meio de cópia dos arquivos da Cia.Seguradora envolvida. O caso foi julgado pelo Tribunal do Concelho de Cascais – Lisboa- Portugal.

À Cia. Seguradora.

Exmos. Senhores, Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais, esclareço: No quesito nº 3 da comunicação do sinistro mencionei: “tentando fazer o trabalho sozinho” como causa do meu acidente.

Em vossa carta V. Exas. me pedem uma explicação mais pormenorizada. Pelo que espero sejam suficientes os seguintes detalhes: Sou assentador de tijolos e no dia do acidente estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares.

Ao terminar meu trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de levá-los a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi,num acesso de inteligência,colocá-los dentro de um barril, e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), descê-los até ao rés-do-chão.

Desci até ao rés-do-chão, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior. Regressei de seguida para o rés do chão,desatei a corda e segurei-a com força para que os tijolos (250kg) descessem lentamente (Notar que na alínea 11 informei que o meu peso oscila em torno de 80kg).

Surpreendentemente , porem, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda … Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha a descer. Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.

Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar das fortes dores, agarrar a corda. Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 kg (novamente refiro-me ao meu peso indicado na alínea 11).

Como podem imaginar, comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro andar, quem encontrei? O barril que vinha a subir. Ficam pois explicadas as fraturas dos tornozelos e os ferimentos das pernas.

Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos embaixo, pois felizmente só fraturei três vértebras e cortei-me todo com os pedaços afiados dos tijolos.

Lamento,no entanto, informar ainda que houve agravamento do sinistro, pois quando me encontrava caido sobre os tijolos, incapacitado de me levantar, e vendo o barril em cima de mim, perdi novamente a minha presença de espirito e larguei a corda. O barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim, partindo-me as pernas.

Pensei que já tinham acabado os meus sofrimentos quando o outro lado da corda,com aproximadamente 18 metros,continuou a subir, passou pela roldana e caiu na minha cara, cegando-me do olho direito.

Tou todo partidoEspero ter fornecido as informações complementares que me tinham sido solicitadas. Esclareço ainda que este relatório foi escrito pela minha enfermeira pois os meus dedos ainda guardam a forma de roldana e estou cego de um olho e com o outro bastante inchando,o que faz com que não consiga ver nada.

Atenciosamente, Antonio Maria Pessoa de Coimbra

Após ler o relatório, a Seguradora pagou o seguro…