✩bell

 
registro: 04-10-2016
um segredo: eu sou assim mesmo: esquisita, louca e feliz...
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psiuu...sonhando acordada ***

psiuu...
boa noite!

que seja doce...

 acabei de ler um texto bárbaro da Ita Portugal, compartilho..

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"Enjoada 
Embrulha-me o estomago essa modernidade racista e preconceituosa mostrada em fotos sangrentas, que pune apenas porque o sujeito decidiu contrariar o óbvio e escolheu outra forma, e diga-se, individual, amistosa e pacífica de viver. 
Enjoei dos códigos de comunicação mais atualizados, com riscos, rabiscos, sinais e expressões para dizer que estou ok e nada mais me interessa. Fico tentando dizer algo mais, querendo falar de sentimentos, e, por falta de sinais para isso, fico cansada e deixo pra lá. Também não consegui concluir a leitura dos modernos tons por pura falta de comoção. 
Ninguém deve estar interessado nisso, mas ainda guardo as cartinhas do primeiro namorado. O caderninho de apontamentos, com algumas folhas em branco, para uma emergência afetiva. 
Enjoei das unhas coloridas em tons e enfeites dourados. Do último creme milagroso. Do cabelo cor de vinho tinto. Da chapinha, de frisante, longo e meio encaracolado, com e sem coquetel de frutas cítricas ou exóticas. Do salto plataforma, agulha, linha, baixo, deslizante ou emborrachado. Das noites de baladas intermináveis findadas em camas redondas com espelhos no teto, banho de ofurô e um bye bye sem número de telefone. 
Enjoei de ouvir falar do último rei da pista, momo, da moda, da comunicação, do amor ou do futebol. 
Contrario essas escolhas e continuo agarrada ao CD de Rita Lee, cantarolo as canções de Caetano, errando a letra, mas achando fenomenal.
 Choro com a poesia que foi cantada por Cartola. 
Ainda curto cinema com olhos marejados, perguntas que flutuam e mocinhos que são heróis. 
Envolvo-me na onda da solidariedade de Bono Vox.
 Gosto do clube da esquina, de ver a banda passar, da lua dos enamorados, das loucas verdades de Raul Seixas. Sou maluca beleza por uma casa no campo, sem trancas e um canteirinho cheio de ervas aromáticas. 
Não enjoo das pedaladas de bicicleta. De ler Guimarães Rosa. Escutar Nana Caymmi. Visitar um sebo e encontrar poemas de Pessoa. Cantarolar Mart’nália. Escrever cartões para alguém distante. Cozinhar a meu modo, sem nenhum tempero pronto ou receitas elaboradas com aqueles troços caríssimos comprados na Europa e que por sinal não têm gosto de nada comestível. 
Não enjoei das roupas de algodão. 
De olhar o fim de tarde.
 De acordar cedo e tomar café, acompanhada. 
De ir à feira. 
Cultivar flores.
 Conservar amizades.
 Conversar sem pressa.
 Ouvir conselhos dos mais velhos.
 Adormecer com barulho de chuva.
 Não enjoei das folhas verdes. Do céu azul. Da noite estrelada. Das pipas no céu. Dos barquinhos de papel na água. Da fruta madura no pé.
 Não enjoei do desejo melancólico de escutar as últimas notícias de que é possível ser feliz. "

Ita Portugal, in: Homens, mulheres, amores

beijos e carinho, bell

https://www.youtube.com/watch?v=L0MVxa5U-pM


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