Sempre em primeiro lugar nas
paradas. No mundo inteiro. É impressionante a vocação do ser humano para o
sofrimento.
Em primeiro lugar há a admiração pelo que sofre. Há um homem na
cruz, adorado não por ter sido feliz, mas por ter morrido em nome de todos. Torturado.
Não é uma imagem ou símbolo feliz, a cruz, mas é um dos mais respeitados. Assim
se dá em todas as instâncias.
Você já viu algum ator ganhar prêmio por comédia?
Raro pra caramba, ainda que seja sabido que a comédia é muito mais difícil que
a tragédia.
Difícil por quê?
Oras, porque a tragédia nos é mais familiar. Somos
mais familiarizados ao sofrimento do que à felicidade e, por isso, nos sentimos
mais ‘em casa’ com ela. Querem dizer de um homem quando é bom que é um homem
sério. Nunca vi dizerem bem do homem que traz a festa, que é divertido, que faz
os outros felizes. Destes dirão, é divertido, é engraçado mas não valoroso ou
confiável. Sério pressupões honesto, sensato, sábio. Divertido pressupõe
desorganizado, irresponsável etc etc.
Gastamos 300 vezes mais com armas do que com cultura ou educação. Difícil
prever o nosso destino? Misteriosa a nossa paixão? Um casal fazendo sexo no
meio da praça é aviltante, não é? E, no entanto, um atropelamento forma um
grande círculo de curiosos. discute-se em público, fazemos passeatas, batemos
boca por todos os motivos, no trânsito, nas ruas. Cenas de beijo precisam ser
preservadas e levadas para a meia-luz, o lusco-fusco, o esconderijo. Não é algo
de que possamos nos orgulhar. Contamos de nossas brigas e discussões, de como
fomos valentes ou injustiçados mas não confessamos nossos prazeres com
facilidade.
Nossos amores, então? Homens dizem que a mulher é legal, que tem
qualidades, como se delas precisasse pra justificar o amor que, injustificável,
apenas é.
E os desejos reprimidos, quem não os têm? As noites de paixão que
evitamos por não conhecer bem quem nos deixou com a perplexidade do encanto e
desejo? Sim, há muito o que perder. E há no sexo destes tempos algo de mortal,
o vírus, como se andar de carro fosse a coisa mais segura do mundo. Tirando-se
a camisinha do coração provavelmente não precisaríamos de usá-la no instrumento
de nosso amor. Sim, sexo consensual é amor, seja lá em que nível e intensidade.
Amor também pode durar 5 minutos.
Alguém está amando, alguém fez uma música linda, um quadro, alguém tem muito a
ensinar sobre a vida. Na televisão, às tardes, veremos o que está no entreato
do que realmente importa: assassinatos, maldade, sangue. E tomando o tempo do
povo por tantas horas passa a agigantar-se e tomar proporções que não merece.
Sim, há o horror, mas há muito o que se ver de belo! E isso merece ser visto!!
O Belo só é se admirado! Caso contrário nem existe. E o horror, a morte, a
violência, não merecem ocupar o espaço que ocupa por não tornar a vida melhor
para ninguém. Além de incentivar os que tenham a vocação para o mal, já que o
comum acaba por virar normal.
Precisamos fazer escolhas, você não acha?
Pais ficam evitando cenas de amor na frente dos filhos e gemem baixinho à noite
para não incomodar os meninos.
Quem consegue imaginar a mãe pagando um boquete?
Nossa, exagerei: a mãe fazendo sexo oral com o pai é o máximo que o bom senso
permite. Pois as mães, perdoe-me a sinceridade, ou chupam ou deviam chupar pau.
E outras coisinhas mais. Mesmo que te incomode pensar nisso. Pais são
safadinhos também, gozam e tudo o mais. Aliás, sábia a natureza que estabeleceu
o orgasmo como requisito indispensável para a perpetuação da espécie. Sim, nós
nos incumbimos de acabar com essa necessidade.
Já podemos nos perpetuar sem
prazer nenhum. Depois da bomba atômica a maior conquista do homem infeliz.
O amor é uma vergonha, a ferida uma medalha, o desejo um segredo, o sofrimento
uma chancela.
Quem diria? Até Vinícius dizia que o poeta só é grande se sofrer.
Não acho. O poeta só é grande se for grande. E poeta. Sofrer pode ser uma
abstração, como dizia o pessoa: “o poeta finge tão completamente que acaba por
fingir que é dor a dor que deveras sente”.
Há grandeza no prazer, na graça.
Nossa Senhora cheia de... graça!!!
Sim, espírito elevado e alto astral são
farinha do mesmo saco!
Acredite: rir é bom.
E a internet acaba por propiciar mais comunicação entre os homens. Há,
evidente, entre esses os que espalham mensagens catastrofistas, enchem nossas
caixas postais com gente que perdeu os rins em baladas, crianças que sumiram,
golpes financeiros incríveis etc. Imaginação para criar essas aloprações de mau
gosto é o que não falta. E tome de gente a embarcar. Ficar preso em casa parece
mais adequado. Protegido pela própria solidão. Acreditando no que dizem essas
mensagens prontas e os noticiários espalhafatosos. Acuado. No seu próprio
esconderijo transformado em cela. Falando e rindo virtualmente mas na solitária
cadeira em frente ao computador.
Preso. De lá pra televisão.
Preso. Mas isso
não é uma perspectiva catastrofista também! Não.
Quero dizer que se há gente
sadomasoquista que nunca pode encontrar os seus porque era difícil
identificá-los e muito perigoso abrir essas questões, hoje, com a internet,
fica fácil fácil. Se era difícil saber sobre seus ídolos ou sobre novos saberes
e descobertas, agora é facílimo. Há até site de colecionadores de brinquedos,
seja lá o que for que te dê prazer, é só procurar os seus!.
Só há a necessidade
da escolha.
Mas tudo, desde a roupa ou o que vamos comer no café, são escolhas!
Tudo, o jeito que vamos falar com os outros, como vamos andar, gesticular,
ajeitar o cabelo. Escolhas.
Há uma parada de sucessos mundial. E o som do choro não pode, não deve, não
precisa ficar em primeiro lugar para sempre.
Por quê?
Porque eu não quero.
E
desculpe a sinceridade.
E você?
Faça a sua escolha.
Léo Jaime