Não resisti à oferta dum pêssego, fruto do teu pomar
carnudo, sumarento, rosáceo e maduro, envolto em penugem sedosa que
Encimado por uns botões lindos de onde teu leite sai, alimento e sedução
Acariciei de cima a baixo e do centro para os lados
Rodei-o nas palmas das mãos.
E, juntando os dedos, indicador e polegar - bem no alto,
Bem no centro, onde um beijo deixei
A polpa dos dedos restantes em redor, afaguei
Numa caricia incontida, agarrei o par,
Oh céus, dois hemisférios separados por um meridiano
Os bicos que endurecem nos polegares, tocam fundo.
Escorreu o aroma do suco pelos dedos
e nas pontas sorvi-o gota a gota,
pingo a pingo.
Solto o caroço, suguei-o pela língua
ao céu-da-boca e volteei-o mil vezes
até senti-lo duro, grosso e limpo.
Foi então que, esfomeado, sedento e guloso
o devorei, pedaço a pedaço até o sabor
desaparecer em perfume.
Ao caroço enterrei-o no teu pomar na esperança de que,
Esta noite, amanhã e sempre não precises de mo oferecer e eu o
possa colher sem ter que to pedir.