Num tempo muito ido,
quando os animais falavam, havia uma estrelinha perdida no escuro da noite, num
canto só seu. Estava sozinha a marcar aquele ponto do Céu. O tempo passava e
ela ia perdendo o brilho. Sentia-se só. Um dia, olhando as outras estrelas, vislumbrou
a Terra. Como era bela, pensou! E com o encanto veio a vontade irresistível de
a conhecer. Decidida, entrou na noite da floresta, qual estrela cadente,
deixando um rasto de luz intermitente na copa das árvores. Não houve pássaro
que não acordasse e a anunciasse com piado abalado. A luz e música
acompanharam-na num bailado que a fez sorrir. A curiosidade era tamanha que se
sentia a rebentar, tivera peito e morria ali.
No meio da noite descortinou ao
longe uma pequena luz. Iria para lá! Seria uma alma gémea; mas não, a luz
estava imóvel. A casa ia ganhando forma; a luz, essa, brotava de dentro e fugia
para a noite que ali começava. Bateu à porta. Lá dentro, um cão, um cavalo e um
porco jogavam às escondidas. Foi o cavalo que assomou à porta. Intrigado olhou
e nada viu. Ia a fechar a porta quando ouviu um olá quase perdido. Olhou
novamente e nada! Ouviu agora vindo de cima, “aqui, estou aqui!”.
Num movimento
lento levantou a cabeça enquanto esta ia ficando ruborizada com a luz que a
estrelinha emanava. Sorriu, o espanto tomou-o de pronto. “Quem és tu?” indagou.
“Sou a estrelinha, posso brincar?”.
“Claro que podes, entra” e dizendo isto
encaminhou-a para a sala.
“C’um caneco!” exclamou o cão enquanto o porco, mais
velho e vesgo, se limitou a mirá-la através do óculo que herdara da mãe. Em
breve estariam todos a brincar. Seria o cão a apanhar. Encostou-se à parede e
contou até cem, e não foram poucas as vezes que se enganou, a vontade de jogar
era muita. O porco, pressentindo a proximidade do cão, saltou de rompante do
armário e numa corrida escorregada alcançou a parede. Em leitão correra melhor,
lembrou. O cavalo, ainda o cão olhava o porco, lança-se detrás da porta indo
embater com um sonoro coice na parede gasta em jogos repetidos. Restava a
estrelinha, desesperava o canídeo. Tudo procurou e nada! Nada mesmo! Com o
tempo a busca transformou-se em pânico. Agora todos procuravam.
O porco opinou
“fugiu por certo! Não há estrela que se esconda ...”.
O cão, mais prosaico,
admitiu “Se calhar apagou-se!”.
O cavalo ao ouvi-los bocejou e afirmou do alto
da sua nobreza “Ela só queria brincar! É uma criança ...”.
Ainda não tinha
terminado e a voz doce fez-se ouvir “Escondi-me aqui, tontos!”, e o tecto
iluminou-se com os raios que o sorriso dela projectava.
Olharam todos para cima
e perceberam o óbvio, uma estrelinha seria sempre uma estrelinha, e ainda bem.
Quem tem medo de ser feliz?
Que a luz deste conto ilumine a cara de uma criança, basta uma e valeu a pena!
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