Um sonho de
cappuccino
Entrei naquele bar acolhedor onde o chão, coberto a madeira e,
as paredes feitas de tijolos, o todo complementado por uma ténue iluminação, que
se espalhava pela sala. Folhagens verdes das plantas transmitem uma atmosfera
suave, bem como os móveis fabricados inteiramente em madeira, tudo isso pretende
difundir a natureza convertendo o espaço num local mais íntimo, como se fosse
uma pequena floresta onde podemos reencontrar-nos com os nossos recursos
internos, folhear um livro e, absorver um delicioso cappuccino com canela.
Olho à minha volta, deixo que os meus olhos se acostumem
ao ambiente de meia-luz do local. Perto da janela está instalada uma fonte onde
corre água e à cabeça vem-me uma frase-chave... Deixem o fluxo de água correr
nos córregos...deixem a chuva cair...deixem o sol brilhar. Porque me lembro
dessa frase de repente? Tento lembrar-me onde a li...esquadrinho a minha
memória em vão. Onde?
Sinto uma auréola de doçura inesperada que nunca
anteriormente tivera a capacidade de sentir perto de mim. Eu sabia que esta
fragrância existia em algum lugar através de bosques... transversal ao tempo,
mas desfrutar dela perto de mim foi bem diferente. O que eu não daria para ter a aptidão suficiente de
refinar o meu olfacto e, colar o meu nariz ao seu pescoço. Está aqui, é a primeira
vez que a vejo tão perto. O seu perfume dá lugar a um cheiro madeirado, mesclado a uma chuva de verão e aos aromas florais de uma planície repleta de
flores. Quero ficar mais perto e, inalar a sua melosa seiva…fantasio
Acerco-me dela, inspiro... Respiro-a. Inalo-a suavemente;
os meus sentidos, todos os meus sentidos estão em alerta através das samambaias
da sala.
Sento-me, ela está concentrada na leitura a ler um romance, conjecturo.
As mãos delicadas seguram o livro do qual suspirava ser
página virada por ela, como ela me faz virar a cabeça agora.
Gostaria que o seu olhar alteasse por momentos... parasse
por um instante de ler; que me visse.
Ela vira suavemente uma página da leitura, insere um
marcador e deposita o livro sobre o bordo da mesa em madeira. Com elegância as
duas mãos seguram agora uma taça branca como a sua pele de boneca, ela parece
tão doce...
Beberrica um golinho e, por um instante o olhar cruza-se
com o meu.
Com a língua limpa a espuma que ficara nos lábios.
Seu olhar é ilusório, os lábios... gostaria de os
aprisionar aos meus, na minha carne e, de bom grado enlaçar sem cessar e… amar.
Estou sentado e contra a minha vontade, a funcionária
chega à minha mesa. Estou confuso, murmuro a palavra café... ela continua a
olhar para mim, os seus olhos são de um adorável tom castanho-avelã. Ela
passa a língua sobre os lábios como que a provocar um pouco os meus sentidos...
a empregada continua ali e insiste em perguntar-me que tipo de café.
De repente, a mulher, bela como o dia de sol, cruza-se
com a empregada de mesa e sugere que ele tome a mesma coisa. Fico sem palavras,
boquiaberto, nervoso, querendo falar, mas não conseguindo nada mais além de um sorriso nos lábios.
Ela ruboriza... percebeu que eu estava caídinho pelo seu olhar de mulher.
Convida-me a partilhar a mesa dizendo-me que tem de sair em breve e, que esta
mesa pode fazer-me falar. Levantei-me e fui sentar-me ao lado dela. O silêncio
terminou. Um longo momento, um momento em que as palavras soam, caso contrário
esse momento será destruído.
Sabemos que há silêncios que não incomodam, que são
necessários à vida, como este. Ela vive nos meus olhos, o momento presente...
O meu café chega... quebra o momento de silêncio. Ela
olha para mim e diz-me para provar e, tomar o tempo necessário para saborear e
sentir o calor aconchegante que me vai aquecer o interior, do frio proveniente
deste mês de Fevereiro.
Senti em mim o calor que se foi intensificando de um
segundo ao outro, apenas para estar presente ao seu lado. Ela sentia-o... pressentia-me.
Também sentia essa auréola, conseguia ser mais forte do
que o café que eu estava prestes a beber. Bebi... alguma espuma quedou nos
lábios... ela teve o cuidado de se aproximar do meu rosto e disse-me para
fechar os olhos por instantes ao que acedi com muita dificuldade... aproximou
os seus lábios suavemente.... muito, muito suavemente dos meus e, passou a
língua para lamber a espuma do café... e, beijou-me como nenhuma mulher antes
me beijara . Então, levantou-se e saiu...foi nesse instante que acordei do sonho.
Mas algo ficou, um certo perfume no ar. O perfume da mulher do sonho, pergunto-me o que sucederá se me
aproximar de ti, rosa na mão?
Que te respire tal como uma rosa escarlate que roçe a tua doçura e a sensualidade que libertas?
Que mais pode suceder se
ousar apaixonar-me e oferecer-te carinhos e beijos na docilidade da tua pele...
se me transformar em rosa de tantos carinhos...
deitado
pensando na noite passada, não notei a sua proximidade.... estava de olhos
fechados e assim continuei...sentia a sua respiração cada vez mais perto... sentia
a energia que emanava do seu corpo....fiquei estático esperando as suas mãos....
Mas,
o que percorria meu corpo não eram as suas mãos, nem sua boca...quando quis falar,
tapou-me a boca com a boca.... beijou-me docemente no início...depois a sua língua
queria a minha... numa fome de desejos...ainda
sentia um arrepio a percorrer o meu corpo....
Que mais pode suceder....
Talvez ela responda se
perguntar...
https://www.youtube.com/watch?v=ymJTPhxeRQk
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