Palavras levianas que falam de amor fácil, a expressão, palavras que se travestem de emoção e afinal apenas exprimem o eco de coisas de que se ouvem falar, nada mais que palavras repetidas como no registo electrónico de um qualquer gravador.
Palavras que falam de amor, ou apenas o recitam, como se quisessem dizer o que alguém está a sentir no momento em que as soltam ao vento com a mesma convicção com que as árvores entregam as folhas aos caprichos de um sopro, sem saberem qual o destino dessas partes caducas de si, sem se interessarem com isso até.
Palavras que gostam de pessoas mas apenas daquelas que as proferem como suas, as vontades, que amam a liberdade de poderem dizer-se sem restrições.
Palavras que deviam exprimir emoções mas apenas camuflam a sua ausência na absoluta inconsciência de quem as cospe sem sequer saber porquê.
O sentimento que se lê sem saber como o decifrar, naquelas palavras que afirmam amar mas afinal não passam de uma coincidência no som.
Palavras semelhantes no tom, palavras intensas, para que não esqueças a referência de tudo aquilo que desaprendeste ao longo do caminho ou ainda não conseguiste, de todo, entender.
Palavras que fazem doer, quando as desmascaramos, hipócritas, por detrás do invólucro precário que lhes cobre o sentido despropositado, no absoluto vazio.
SE MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
Federico Garcia Lorca (1898-1936)
https://www.youtube.com/watch?v=PuLyKxb7RZI
https://www.youtube.com/watch?v=byqyfYOM3dY