acma1953

 
prihlásili ste sa: 03.01.2011
I miss you,I'm gonna need you more and more each day I miss you, more than words can say More than words can ever say
Bodov175viac
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O vento sou eu

Ao teu ouvido o vento, o verdadeiro e não uma qualquer brisa passageira e fugaz, segredava-te histórias de encantar que tu ouvias e sorrias, deliciada com elas, em troca oferecias palavras que ele espalhava pelo mundo com um sopro avassalador.
Todos os dias o vento tocava-te, sem contudo te conseguir agarrar. No teu coração em remoinho, a insegurança voava descontrolada de cada vez que sabias estar próxima de quem te podia deitar a mão, algo que o destino o privava de concretizar.
Impaciente, ele agitava-se como um temporal, sempre que imaginava um futuro distante do dele. Longe dela, era a revolta interior sem a exteriorizar para não a intimidar.

Um dia, quando o vento chegou junto dela para a saudar descobriu-a com um intruso. Era assim que ele sentia, como uma ameaça, mas nada podia fazer. Ela sorria para o tranquilizar, dizia que nada mudaria na sua relação, no entanto nesse dia ela não se interessou pelas histórias que o vento trazia para lhe segredar. Antes ouvia as palavras do intruso, que a seduzia com proezas conversadas e um interesse por ela que a lógica não conseguia explicar.
Posso provar-to, dizia ele, com o vento a uivar de raiva nos cumes das montanhas ao longe. O que mais queres que faça por ti? E ela pediu-lhe que lhe explicasse o mar que não conhecia, aquele de que o vento lhe falava nas suas histórias de força indomável e de vontade de vencer.

Alguns dias depois, o intruso regressou com uma fotografia das ondas, mais um leitor de cassettes sofisticado que reproduzia o som da rebentação. Ela apreciou deslumbrada, convencida de que sabia agora do que o vento falava quando a encantava num murmúrio.
Foi então que o vento reagiu com um sopro mais forte, carregou desde a praia uma casca de búzio que depositou aos seus pés e ela apanhou-o e pôs-se a escutar o som que o vento lhe trazia, sereno e distante, diferente do mar revolto das histórias que ela lhe ouvia contar. O intruso sorria, divertido, perante a imagem patética que o vento recolhera para simbolizar o poder dos oceanos. Mas ela não lhe prestou atenção.

E o vento, que muito a queria, exibiu-lhe o mar como o sentia. E no fim ofereceu-lhe uma flor.