Sinto a tua falta, as horas passam, os dias desfilam e, até a distância se instalou. A distância sim, aquela que não queríamos que nos separasse, mas não aquela que pode impedir de cruzarmos olhares, umas vezes tão efervescentes e outras tão atormentados, de aproximarmos as bocas que fechadas, contam todas as tristezas e ouvirmos risos que tanto nos alegram.
Esse distanciamento recuso-o. A distância actual é outra, pode ser mais dolorosa para mim, porque foi causada por ambos, sem um adeus. Neste espaço de tempo que nos separa aprendi, do desejo que me atrai tão forte na tua direcção, tive medo e resisti. Com vigor.
O amanhecer esconde-se sob um amontoado de nuvens, como o meu coração dorido no oceano morno dos teus braços. A chuva que cai na madrugada recita suspiros sobre os telhados e, com imprudência destila a sua carícia na folhagem. No entanto, o tempo desliza para o interior do cinza plúmbeo que, com abraços silenciosos envolve pequenas estrelas.
Uma flor desponta na bruma, envolta na espuma deixada pelo orvalho que emite murmúrios impossíveis, assaltante do dia que desponta incorruptível, na minha tela.
O vento levanta-se e caça a última sombra.
Roço nos teus pensamentos de porcelana, instalo-me na praia onde as gaivotas em grande número têm pousado rasgando a seda do silêncio com o seu recital efémero.
Vais voltar ao anoitecer a vaguear no meu caminho, mesmo que o céu continue a sua briga com o oceano. Eu guardo para ti no meu bolso belas conchas que vão contar a história terna e doce de dois amantes
Depois, a raiva num primeiro momento preencheu o espaço vazio porque hoje... fazes-me falta